Muito hesitante, preparou-se e vestiu-se com receio de que ninguém a reconhecesse e receosa das repercussões seguintes que aquela pergunta pudesse, ainda, ter no seu corpo. Antes do pequeno-almoço, a mãe da menina beijou-a e olhou bem para o seu rosto, enquanto lhe fazia uma festa carinhosa. O pai levou-a, como sempre, até à escola — entre sorrisos e algumas canções que sempre trauteava. Tudo permanecia igual e feliz. Só ela se sentia diferente e nunca antes tão só num duelo inglório com aquele que a todos pareceria um inimigo risível: uma pergunta. Na rua, durante o percurso até à escola, percebeu que o céu, as coisas e as pessoas ardiam nos seus olhos e o seu perfil delineava-se com contornos proeminentes. Pontualmente, o seu corpo tremia, como se alguma coisa de dentro dela quisesse sair mas tivesse de lá permanecer. Sentia que todas as pessoas a olhavam como muita atenção, detendo-se demasiado tempo nela. A cada olhar tinha a obsessiva sensação de que todos podi...
Conheça um pouco melhor os interesses e a imaginação que habitam a Escrivaninha.