A noite passada fui surpreendida com sete chamadas não atendidas. E eu, que sou muito mais atenta às pessoas do que ao telemóvel, devo admitir que o número de tentativas de contacto — ainda por cima ímpar — me deixou momentaneamente sem ar. Não passava de uma brincadeira terna que me enterneceu, e repare-se que não pretendo atribuir responsabilidade a mais ninguém além de mim: eu sou a única responsável pelo sufoco. Eu que fui automaticamente catapultada para um lugar de culpa, para um fosso que escavei todas as vezes que procurei ter uma certa independência e a confundi com aquela infantil necessidade de ser desatenta. Há uns anos o meu pai caiu do telhado. Sim, do telhado. Ele talvez já tivesse uns 67 anos e, esquecendo o perigo a que todos estamos sujeitos se cairmos de um telhado, é provável que ele se tenha rido bem mais do que eu que, nos meus aéreos 24 anos, não lhe atendi o telemóvel das duas vezes em que me ligou porque, à data, insistia em julgar que o rodopio de L...
Conheça um pouco melhor os interesses e a imaginação que habitam a Escrivaninha.