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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2021

Sete de uma vez, do telhado para o chão.

A noite passada fui surpreendida com sete chamadas não atendidas. E eu, que sou muito mais atenta às pessoas do que ao telemóvel, devo admitir que o número de tentativas de contacto — ainda por cima ímpar — me deixou momentaneamente sem ar.  Não passava de uma brincadeira terna que me enterneceu, e repare-se que não pretendo atribuir responsabilidade a mais ninguém além de mim: eu sou a única responsável pelo sufoco. Eu que fui automaticamente catapultada para um lugar de culpa, para um fosso que escavei todas as vezes que procurei ter uma certa independência e a confundi com aquela infantil necessidade de ser desatenta.  Há uns anos o meu pai caiu do telhado. Sim, do telhado. Ele talvez já tivesse uns 67 anos e, esquecendo o perigo a que todos estamos sujeitos se cairmos de um telhado, é provável que ele se tenha rido bem mais do que eu que, nos meus aéreos 24 anos, não lhe atendi o telemóvel das duas vezes em que me ligou porque, à data, insistia em julgar que o rodopio de L...

Escrever, memórias de um ofício, de Stephen King

Capa de Escrever, Editora Bertrand Stephen King, nascido a 1947 em Portland, Maine, nome maior do terror na ficção. Sobre as suas obras, numa entrevista a Charlie Rose, dizia Harold Bloom não serem verdadeira literatura — a par das obras de J. K. Rowling, da colecção Harry Potter . No mesmo programa, noutro episódio, dois outros professores de literatura contrariavam o estudioso, dizendo que o autor do Cânone Ocidental era snob , pois apesar de as obras destes autores não se integrarem na mais erudita literatura, eram histórias verosímeis, cativantes e bem escritas. Polémicas à parte, a verdade é que até aqui eu não lera nenhum livro de S. King. E, talvez devido à curiosidade que nos impele a indagar o ambiente à volta da escrita, as rotinas de um escritor, os motivos da escrita, comecei por Escrever . Nele, com sensibilidade e humor, S. King conta-nos o seu percurso de vida e de escrita : desde a persistente inflamação de ouvidos que o perseguia em miúdo, passando pelas cartas de rej...

A dor de cabeça das percentagens

Nos jornais, na televisão, nos trabalhos académicos, em livros de não-ficção (e de ficção) e até no futebol, as percentagens são um elemento a que recorremos diariamente. E porquê? Porque apresentar uma determinada informação sob a forma de percentagem — isto é, sob a forma de uma parcela de 100 — não só a torna muito mais intuitiva para quem a interpreta, como isso nos facilita (muito!) a comparação de dados. Mas a verdade é que nem sempre sabemos formular percentagens com correcção. Pois é, em torno das percentagens há pelo menos uma norma ortotipográfica e uma regra linguística e da língua portuguesa que devemos cumprir escrupulosamente. A primeira é simples: existe sempre um espaço entre o(s) algarismo(s) e o símbolo de percentagem (%). Assim:  50 % é o correcto,  e não 50%. A segunda regra já é um pouco mais difícil de decorar, dado que passa por perceber qual o termo com que deve concordar a forma verbal que utilizamos na frase em questão.  Ora bem, comece...