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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2021

Velhos, lares e eufemismos

    Uma velha bonita. Fonte: Unsplash   «Lares», esses sítios para onde vão, para onde são enviados os idosos, os séniores — ah... o eufemismo na palavra... e que palavra... com veneno sibilante da serpente: a linguagem. Não gosto da ideia de lar e esta implicância começa na hipocrisia do nome. Para ir para um lar é necessário sair-se do seu. Os lares podem ser (são certamente) importantes para muita gente, mas posso não gostar deles? Para mim, o lar é um sítio asséptico e descaracterizado, em que o que devia ser amor e mimo se substitui por normas sensatas; onde prepondera a atitude temperada e as atividades têm sempre um odioso propósito qualquer... Julgo que o lar infantiliza os velhos ao «obrigá-los» a fazer ginástica ou uma coisa chamada «terapia do riso». Destitui-os dos vícios e das manias que a idade implantou, endureceu neles, ao seguir a máxima de que o que é bom para todos será bom para cada um deles.  Eu, que imagino os velhos como pessoas cravadas pelo t...

Janelas

Janelas indiscretas entretêm. Fonte: Unsplash No caminho do trabalho para casa, tinha por hábito perder-se entre os prédios, fascinado pelas janelas que, do outro lado, revelavam salas com luzes acesas. Para trás, deixava um dia de trabalho e olhava as janelas da mesma forma que estava habituado a ver outras pessoas olharem as estrelas. Daquela perspetiva, ao longe, eram realmente estrelas que lhe pareciam. Fontes de luz numa noite já cerrada, embora as horas acusassem apenas umas nove e meia da noite. Não conseguia ver o que acontecia do outro lado. Eram as janelas dos andares mais altos que o fascinavam. Não era o voyeurismo que o impelia a deter-se daquela forma. Era a realidade imaginada e as possibilidades que poderiam estar por trás delas que o cativavam, como se fosse um exercício ao qual se dedicava para libertar o seu potencial criativo. Ingenuamente, as imagens que lhe passavam pela cabeça das vidas que aqueles apartamentos poderiam guardar traziam-lhe sempre um gosto daquil...

Estada ou estadia?

Estada e estadia — uma batalha perdida?  | Foto de Unplash Há umas semanas, acabada de chegar a um hotel, diziam-me na recepção: «Boa estadia!». Foi aqui que surgiu a ideia de escrever, na Escrivaninha, no próximo 100 erros, sobre esse par confuso que é «estada» e «estadia». É certo que o erro está amplamente disseminado. Faça-se uma pesquisa no Google por férias e hotéis e percebe-se a confusão e a a praga das «estadias» usadas indiscriminadamente. Mas, como na Escrivaninha não acreditamos em batalhas perdidas e ainda temos esperança de que os nossos leitores comecem a generalizar a correcção, vamos a explicações. «Estada» é um substantivo feminino que, segundo o Dicionário Morais , significa: «ato de estar, ficar em algum lugar; assistência, permanência, detença.» Pode também designar um «andaime armado numa parede alta para acabar a sua construção», apesar de esta acepção nos parecer muito pouco usada. O sentido mais comum de «estada» é mesmo o primeiro. Para vos ajuda...