Ilustração de Rita Sales Luís I — Mamã, eu mato-te! — era a declaração exagerada e agressiva da Cátia. Cátia nascera num «berço de ouro», mas agora, com trinta e poucos anos, zangava-se tempestivamente com a mãe e naquele dia ameaçava-a no terceiro andar do meu prédio. Narinas amplas e furiosas, a saliva borbulhando a chafurdar, depois gritos, o pérfido tratamento «Mamã!» e as queixas da mãe, em voz aguda, dirigidas ao céu: «Paizinho!». Depois da discussão entre ambas, a D. Amélia vinha ao nosso sexto andar contar o sucedido e, eventualmente, pedir algum favor. O meu pai fora durante alguns anos o presidente do condomínio do prédio, cargo que parecia tê-lo imbuído, mesmo findo esse período, de uma espécie de tácita responsabilidade para com os condóminos. E particularmente para com a D. Amélia, que sempre se insinuava amiga íntima da nossa família, assim como o seu cão, Boris, que entrava de rompante para as divisões mais recônditas da casa. A D. A mé...
Conheça um pouco melhor os interesses e a imaginação que habitam a Escrivaninha.