Ilustração de Maria Monteiro Tomou-os de assalto. Nem as mãos de um mágico segurando, de súbito, um pomo branco igualariam a habilidade daquele sono que sorveu, repentinamente, pai, mãe e filho. Respiravam, dormiam em uníssono. Parecia quase que fingiam para se tornarem dignos de descrição. Três moscas que por ali voavam esperneavam pontualmente e comentavam o sono da família. Nunca antes haviam presenciado uma sesta tão peculiar que as distraísse da sua leviandade e do seu inerente sentido de fuga. As três ouviam a respiração dos três adormecidos, que era uma só; pasmavam perante a expressão de abnegação dos três corpos despojados de gestos. A janela da sala onde dormiam estava aberta, convidando uma aragem a espaçar os pêlos dos três narizinhos. O do pai era um nariz acabrunhado; o do filho, um nariz súbito, novíssimo. A mãe tinha um nariz retraído, de modos delicados — mas igualmente reles por dentro, e por vezes ressonava até. Uma das moscas quis a...
Conheça um pouco melhor os interesses e a imaginação que habitam a Escrivaninha.