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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2020

«Que» ou «de que»? Eis a questão

Que ou de que ? Eis a questão | Fonte: Unsplash Entre as várias dúvidas que o domínio da língua portuguesa tantas vezes causa, há uma que, apesar de passar relativamente despercebida, é bastante assídua.  Quando é que dizemos apenas que ou de que ? Ora, é muito simples, saber se utilizamos que ou de que com determinados verbos ou substantivos e adjectivos depende de um conceito de que já aqui falámos algumas vezes: a regência. Para relembrar, a regência refere-se, nada mais nada menos, do que à relação entre uma determinada palavra e seus dependentes.  Quando falamos da regência verbal falamos do facto de alguns verbos precisarem de preposições para darem "entrada" nos complementos e outros não. Já no caso da regência nominal a palavra regente é sempre obrigatoriamente preposicionada.  Assim, e mpregamos de que , quando o verbo que antecede este de que exige a preposição de (isto é, é regido pela preposição de ). Exemplos: 1.1. «Lembrei-me de ir a casa do João.» 1....

A Louca da Casa, a de Montero e a nossa

A Louca da Casa , Rosa Montero Não vos apresento Rosa Montero pelo simples facto de que não estou certa de que possa fazer jus aos vários dotes da autora e, sobretudo, porque sei que não o posso fazer sem falhar redondamente. Então, digamos apenas que Rosa Montero é uma romancista e jornalista espanhola (e a ordem não é aleatória), nascida em 1951, numa Madrid em que eu nunca hei-de estar (curioso que possamos falar assim sobre todos os sítios do mundo). Entre a não pouco extensa obra da autora, vive um livro que persegui – e temi ler – durante anos e que hoje tento recomendar com toda a sinceridade e falta de jeito que me caracterizam, pedindo desde logo desculpa por tudo quanto eu possa revelar a respeito deste livro ser, inevitavelmente, redutor. A verdade é que a minha mestria não me permite fazer melhor, embora saiba que a mais não sou obrigada. A Louca da Casa é um livro que, antes de mais, é difícil de rotular por uma simples razão: é um ensaio ficcional autobiográfico com toda...

O popular, o ridículo e o gracioso na dança clássica

Les Ballets Trockadero de Monte Carlo . Foto de Glam Magazine Escrevo estas linhas humildemente, como ex-estudante de ballet clássico. Não sou teórica da dança, nem tenho a pretensão de ser — e tenho até muitas reservas quanto a essa figura. Recordo-me de ter lido, em tempos, um ensaio algo pastoso da autoria de um conhecido ‘teórico da dança’ que explorava a ideia de uma certa força criadora presente nela, com referências (pasme-se!) ao parto. Pareceu-me uma divagação acriteriosa sobre o assunto, um  parlapié  (como, de resto, o meu), mas de quem, ao contrário de mim, nunca se entregou (julgo) a pliés , tendus , fondues ou adágios. É ingrato tecer considerações sobre uma arte quem apesar de tão exigente em termos físicos, transparece um halo de delicadeza, roçando o etéreo. Afinal, dificilmente essas considerações dirão justamente daquilo que na dança clássica se vê e sente. Parece-me que, por mais bem escrito e fluído que seja um texto sobre dança (seja el...

Ainda que preferisses não o fazer

O texto desta semana é inspirado neste conto de Herman Melville. Foto: Wook Ainda que preferisses não o fazer "I would prefer not to" Bartleby , Herman Melville O braço másculo do dia enlaça-te. Já tens o hercúleo esgar que o labor te dá. Ainda que preferisses não o fazer movimentas-te como herói até a lua em zelo descer a noite cénica, quase kitsch . Recolhes depois ao quarto abraçado ao tentáculo da consciência revendo as pantomimas do dia. Eventualmente ris até se erguer a manhã olímpica. Elsa Alves

«Manual de sobrevivência de um escritor», de João Tordo

  Foto da capa do livro  Há pouco tempo comprei – em pré-venda mas sem dar por isso – o último livro do João Tordo: Manual de sobrevivência de um escritor, ou o pouco que sei sobre aquilo que faço . Mergulhei nele sem ler a contracapa, exercício que algumas vezes faço simplesmente por achar que é divertido, e fui dar com um livro de «memórias» de um autor vivo – e jovem – que só não devorei em menos de uma semana e meia porque, felizmente, tenho muito mais para ler e, infelizmente, tenho muito mais coisas para fazer além disso.  E agora? Agora estou eu aqui tão exposta quanto o João porque com a minha leitura – e a sua velocidade – entrego de bandeja a quem me lê a minha maior fragilidade: o ter interesse neste assunto.  Pois é, gostar de escrever – e, sobretudo, não saber se se tem jeito para agarrar na caneta – é, provavelmente algo que todos os que comprarem este livro terão em comum. Mas, para bem ou para mal, terão também muitas outras de que Joã...