Pontuar diálogos: por onde começar?

Como pontuar um diálogo? Pontuação depois do travessão

A semana passada, no nosso último «Conversa fiada», demos-vos algumas dicas para escrever um diálogo — essa tão importante estratégia para quem escreve ficção.

Em fruto de dúvidas que tantas vezes nos assolam a todos (sim, também a nós), dedicamos a publicação de hoje a um tema relacionado com o diálogo: a pontuação no discurso directo.

Ora, antes de mais, é importante deixar claro que a pontuação em diálogo não segue regras fixas (além das que se aplicam a todo o restante texto, claro) tratando-se, portanto, de um tema que não pode de modo nenhum ser tratado com purismos e sem pesar o estilo de quem escreve. 

Dito isto, meus caros leitores, há alguns conselhos que podem ser úteis para, pelo menos, mitigar algumas das dúvidas mais avassaladoras de quem escreve (e, vá, revê) discurso directo e que em nada devem castrar a liberdade do autor.

Vamos lá?

1) Antes de mais, note-se que o mais comum é que o discurso directo em Português se distinga do indirecto porque vem entre travessões ou entre aspas.

a) — Tu não me conheces... — disse ele.

b) «Tu não me conheces...», disse ele

(Sim, sobre as aspas um dia falaremos.)

2) Utilizam-se os dois pontos para introduzir o discurso directo.

c) Quando Maria se levantou da cama, zangada, berrou:

— Mas tu queres que me vá embora?!

3) O mais simples será sempre: uma fala, uma linha.

d) — Não gostavas de ir para a universidade, Luís? — disse Ana, curiosa.

    — Não sei... E ter de mudar de casa? E viver tão longe? — respondeu.

4) O ponto final deve ser utilizado sobretudo para marcar o fim da narração. Ou seja, deve surgir depois do verbo dicendi (espreitem o nosso último «Conversa Fiada») utilizando (e) ou, se não o houver, no fim da fala da personagem (f)).

e) — A Elsa ainda não chegou... — disse o David. — Mas deve estar quase.

f) — Mãe, não quero mais sopa. — O rapaz já choramingava ainda nem via o fundo do prato.

5) A oscilação entre caixa alta (maiúsculas) ou caixa baixa (minúsculas) pode ser feita seguindo uma regra básica: utilizam-se as maiúsculas apenas quando há ponto final. 

Isso significa que, recuperando os exemplos acima, caso não tenhamos chegado ao verbo dicendi (e mesmo que a fala recorra a outro tipo de pontuação como as reticiências, o ponto de exclamação ou o ponto de interrogação) recorremos à minúscula:

e) — A Elsa ainda não chegou... — disse o David. — Mas deve estar quase.

Quando, por outro lado, a narração termina (e utilizamos o ponto final), recorremos à maiúscula:

f) — Mãe, não quero mais sopa. O rapaz já choramingava, ainda nem via o fundo do prato.

6) Por fim, importa falarmos da vírgula depois do travessão no discurso directo (que, no fundo, é exatamente como falar da vírgula que se segue ao travessão em qualquer outro contexto). 

Assim, ela ocorre quando, depois do travessão, se continua uma fala que foi interrompida pelo discurso indirecto. 

g) — Eu detesto comer de pé — esclareceu Joana —, mas às vezes é mesmo necessário.

Isto seria o mesmo que dizer: 

— Eu detesto comer de pé, mas às vezes é mesmo necessário — esclareceu Joana.

E esta? Vai ajudar-vos a construir um bom segmento de discurso directo? Esperemos que sim! 

O nosso conselho é simples: tentem começar por consolidar estes truques nos vossos diálogos. 

Domada a fera, sejam criativos!

Marta Cruz

Escrivaninha

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