Nem só de "passado" se faz o adjectivo
A palavra “passado” — não o passado que passou, mas o adjectivo — é muitas vezes erradamente utilizada. A culpa do erro? Atribuimo-la à confusão com uma outra classe de palavra: o advérbio, que não varia em género (masculino e feminino) e número (singular e plural). Por causa deste quiprocó, dizemos muitas vezes “passado”, mesmo quando deveríamos usar “passada”, “passadas” ou “passados”, conforme a expressão a que o adjectivo diga respeito.
Esta confusão acontece apenas quando se usa o adjectivo num contexto temporal, isto é, com o sentido de determinado tempo volvido, já que a ninguém ocorre usar sempre “passado” noutros contextos, como: "A camisa foi mal passado." "Quero os bifes bem passado, por favor!", "A tarde e a manhã foram bem passado." Toda a gente diz, e bem:
- A camisa foi mal passada.
- Quero os bifes bem passados, por favor!
- A tarde e a manhã foram bem passadas.
Vejamos alguns exemplos errados que se ouvem por aí e a respetiva forma correta (que doravante esperemos que usem):
· Fui ao teatro e, passado duas horas, a peça terminou. > Fui ao teatro e, passadas duas horas, a peça terminou.
· Ele só se recompôs passado dois meses do assalto. > Ele só se recompôs passados dois meses do assalto.
· Passado uma hora do início da festa, estávamos cansados. > Passada uma hora do início da festa, estávamos cansados.
Estas formas são sinónimos de estruturas menos usadas como "volvidas duas horas", "decorridos dois anos" ou, por exemplo, "finda uma hora", em que também um adjectivo precede o substantivo.
A solução para fintar o erro passa por memorizar-se que “passado” nunca é advérbio. Pode ser substantivo, esse, sim, apenas com a forma masculina e singular, dizendo respeito ao tempo que já passou ou particípio passado — "tinham passado" ou "haviam passado". Caso contrário, deve usar-se na forma masculina ou feminina, no singular ou plural, conforme dite o substantivo usado.
Deixamos-vos aqui um quiz para praticarem esta questão que, embora para muitos possa parecer um pormenor, não é. Afinal, se encarássemos os erros como uma soma de pormenores que nada interessam, quão torpes seriam os nossos textos?
Escrivaninha
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