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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2019

O Marechal Piz Buin

Ilustração de José Manuel Sousa Eram dez horas, mas o calor já apertava. Estava «uma tosta» — como dizia a menina nortenha que se sentara com a família, mesmo junto ao nosso posto de observação e cujo corpo redondo quase não cabia no seu fato de banho amarelo. Àquela hora a Meia Praia ainda não tinha muita gente, mas certamente que o espaço entre os coloridos chapéus-de-sol diminuiria em breve, já que o sol brilhava com intensidade, o vento não soprava com demasiada força e a manhã prometia ser, no mínimo, radiante. Nós, éramos três — o que tornava o acampamento fácil de montar. Por isso, foi com rapidez e perícia que deixámos tudo no lugar e caminhámos lentamente para a beirinha da água. Naquele dia, as ondas rebentavam com uma firmeza delicada, um pouco antes dos tornozelos dos velhotes e dos joelhinhos das crianças que ali se acumulavam, ultrapassando, sem dificuldade, a zona de rebentação para aquela zona calma onde já todos nadavam sem dificuldade. Nadámos também n...

«Açorianidade» num podcast Bruá

«Sapiens», um podcast Bruá «Uma espécie de  embriaguez do isolamento impregna a alma e os actos de todo o ilhéu , estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quási religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o  logos , na água». Isto publicava Vitorino Nemésio a 19 de Julho de 1932 — num número comemorativo do centenário dos descobrimento dos Açores da revista  Insula  — , quando frequentava a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, cidade onde já tinha concluído o liceu, dez anos antes. Sim, esta era a voz de um jovem estudante de 31 anos de, que viria a ser um dos grandes nomes do mundo literário português, que foi jornalista, conferencista, locutor de rádio e televisão, filólogo, poeta, ensaísta e escritor de ficção — enfim, um vasto produtor de papéis, desenhos, notas e rabiscos, como prova a extensão do seu espólio, hoje guardado pela  Biblioteca Nacional . Mas, voltando ao assunto, antes de ser tudo o que a...

Ao encontro de vs. de encontro a

A confusão entre as expressões  ao encontro de  e  de encontro a  é muitíssimo frequente e o que não falta por aí são pessoas a ir  ao encontro de  paredes e  de encontro a  opiniões com as quais, afinal, concordam. É uma grande chatice e, embora possa não causar grande mossa se alguém se aperceber que, na realidade, concordámos com um poste da luz, talvez seja um pouco mais preocupante quando alguém não compreende se estamos ou não de acordo com o que nos disseram. Contudo, e para variar, a diferença entre o valor semântico de cada uma destas expressões é mais simples do que se imagina e, para compreendê-la, basta que olhemos com calma para cada uma delas e pensemos sobre a sua composição. Então, afinal o que é que distingue estas locuções prepositivas (isto é, expressões constituídas por mais do que uma palavra e regidas por uma preposição)? Ora, cá vai disto: ·  ao encontro de  significa «em busca de», «na direcçã...

Um dicionário dos diabos

Mas quem é que, afinal, lê um dicionário? E, ainda por cima, da perspectiva do diabo?  Este pode ser o primeiro pensamento impulsivo e indignado de um leitor. Para rebater esse argumento convém desde já esclarecer que este não é um dicionário comum — não será sequer um “dicionário” no sentido mais normal do termo. Anima-o um espírito endiabrado que promete fazer rir os mais beatos. Cáustico e humorístico, Bierce leva-nos a pensar se não haverá um discreto esgar ditatorial na maioria dos dicionários que nos sorri, tendo a pretensão de nos apresentar a verdade das palavras, e por extensão, a do mundo. A definição de dicionário que Bierce apresenta menospreza precisamente esse outro dicionário banal, descrevendo-o como “um dispositivo literário malévolo para impedir o crescimento da língua e para a tornar rígida e pouco flexível”. Já o seu trata-se de “uma obra muito útil”. Na esfera desta nova semântica, Bierce caricaturiza a alegria de certos conceitos. A noiva, po...

Escrivaninha: alguns recursos usados

Como humanos que somos, na Escrivaninha também nos falha a memória e, por isso, nem sempre temos a resposta na ponta da língua. Contudo, e como o que verdadeiramente nos define é o gosto e a curiosidade pela língua portuguesa, o importante é desconfiar (de tudo!) e ter à mão os recursos necessários para dar resposta a todas as nossas dúvidas! Assim, para escrever no blogue da Escrivaninha — e nomeadamente para dar rumo às publicações das categorias  100 erros  e  Conversa fiada  — consultamos, frequentemente, muitos dos recursos a que tantas vezes recorremos no nosso dia-a-dia profissional. Abaixo seguem apenas alguns desses recursos e onde os podes encontrar. Não queiras ter tudo na ponta da língua, mas fica a saber onde a afiar ;) Recursos impressos ALMEIDA LEITE, Sara de. 2017  Como Escrever (tudo) em Português Correto — dicas e conselhos práticos para escrever 20 tipos de textos , Lisboa: Manuscrito Editora. https://...