Graças a várias sortes que me calharam, nunca tive contacto com nenhum caso de violência doméstica. Pelo menos não o sei e só isso talvez acuse o verdadeiro problema desta questão: o silêncio de quem a vive nesses cenários e a ignorância de quem, tantas vezes sem dar por isso, assiste. Mas a verdade é mesmo essa: salvo uns vizinhos mais barulhentos cuja casa abria frequentemente as portas ao álcool — tinha eu 18 anos — nunca me vi diante de tamanha tormenta. O que eu sei é que, mesmo nunca tendo vivido nada semelhante, desde cedo subscrevi aquela opinião francamente imatura de que «quem apanha, apanha porque quer» — e não fujo aos termos menos cuidadosos porque era mesmo assim que eu pensava. Julgava, com boa intenção mas sem um pingo de empatia, que «não há nada que justifique aturar um companheiro violento», com ou sem bebida. Bem, não que eu acredite que algo justifique a postura de quem maltrata quem quer que seja. Não. Fique isso bem claro. Mas o certo é que hoje...
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