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Mensagens

A mostrar mensagens de 2022

Eat that doubt

Desenho de Fuinha Ele, ao sol, vermelho como um erro.   Eu a vê-lo; a digladiar-me com os sórdidos detalhes.   Nem a benevolência da luz influía afinação na certeza.   Amor,   como a  súbita  chuva de verão,  começa prende-te a forma esquiva; estaca em quieta complacência.   Dentro duma jarra fica   como o cúmplice  estoico do segredo.   És a decisão   de quem segue repetindo    eat  that                  doubt                     ante a luz propícia, contra a investida de uma condição.     Março, 2019     Nota : Eat that question é o título de uma música de Frank Zappa,  que inspirou o título do texto.   Elsa   Escrivaninha

Desapercebido vs Despercebido

A isto se chama um bom disfarce — ou quase passar despercebido. Foto de  Michael Held em  Unsplash Hoje falamos-vos de duas palavras que por vezes se confundem devido às suas semelhanças, mas que têm significados diferentes — o par d esapercebido vs despercebido .   A única diferença na grafia destes dois termos é aquele «a» em «desapercebido» — a passar desapercebido a alguns. Ambos se formam com o prefixo latino -des , que indica oposição/separação em relação ao verbo sem prefixo.  Ora, despercebido é o particípio passado de «desperceber» e  « desapercebido» é o particípio de «desaperceber».  No que toca à semântica, significam coisas muito diferentes. Desapercebido é sinónimo de «desprevenido», «desacautelado», isto é,  « sem a devida preparação, ou ainda  « desprovido de munições ou provisões » . Já «Despercebido» significa:  « que não se viu nem ouviu; que não se notou, a que não se prestou atenção ou que se ignorou » .  Vamos a ex...

O clube de vídeo da minha rua

Ainda se lembram dos clubes de vídeo?  Fonte: Unsplash Fazia um frio intenso na cidade de Bristol em fevereiro. Acreditava que um ano a viver no Reino Unido me teria preparado para as temperaturas baixas, mas as primeiras impressões ali contrariavam-no. Sentia-o nos ossos e na pele seca, ressentindo o frio. Era a primeira vez que visitava a cidade, que me transmitia uma estranha sensação familiar. Não era que me fizesse sentir em casa; mas parecia comunicar com algumas cidades portuguesas que conhecia, mas onde nunca tinha vivido. Talvez a relação que estabeleço entre Bristol e estas cidades a que me refiro seja inocente, demonstrando que não conheço realmente nenhuma delas. Ou talvez refletisse um sentimento de nostalgia e melancolia causado pelas saudades de casa, que já se começavam a fazer sentir naquela altura. Ainda assim, uma das ruas mais largas de Bristol fez-me por momentos sentir que estava na Avenida dos Aliados, no Porto. Também a Ponte de Clifton, embora muito dif...

Entrevista a Carolina Zuppo Abed

Esta semana, no Ler para Crer, entrevistamos a autora brasileira contemporânea Carolina Zuppo Abed. Além de escritora, a Carolina é professora no Brasil, onde dá aulas de escrita literária. Entrámos em contacto com ela para uma breve entrevista sobre o seu percurso como escritora; a pertinência de cursos e oficinas de escrita leccionados em Portugal e no Brasil, e o modo como são encarados nos dois países. Com três livros disponíveis para compra em Portugal – e um quarto pelo qual aguardamos e que se pode encontrar atualmente no mercado brasileiro –, já perspetiva mais dois, dos quais também tivemos oportunidade de falar brevemente. Façam bom proveito da entrevista à querida Carolina  –  no embalo da ginga deste belo português.   Carolina Zuppo Abed   – Podes contar-nos um pouco da tua trajetória, enquanto professora e escritora ?   Essa é uma trajetória longa, e nela se confundem um pouco os dois papéis que ocupo no sistema literário. Comecei a escrever muito p...

Homenagem em forma de pergunta, parte I

A Conversa Fiada desta semana, e pontualmente a partir de hoje, decide dar também voz a opiniões alheias. Todos sabemos que os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e auxiliares) foram essenciais quando a COVID-19 entrou em cena. Foi também na altura em que a comunidade médica mais precisava de alento que Marta Temido injustamente apelou à sua resiliência extra e que, numa triste ironia, Costa lhes chamou «cobardes» em off. Em jeito de singela homenagem decidimos entrevistar alguns médicos jovens, que enfrentam, durante a formação especializada, as duras primeiras provas de fogo. Aqui ficam alguns dos seus testemunhos sobre como é afinal trabalhar a cuidar dos outros. Esta é a primeira parte da nossa singela Homenagem em forma de pergunta. *** Sandra Cristina Fernandes Pera Médica de Medicina Geral e Familiar Sandra Fernandes 1) Porquê Medicina? Porque Medicina é um mundo. Aprendo imenso com as histórias dos pacientes. É uma área que me faz ver que não há duas pessoas iguais: ca...