“-se” ou “sse”?
Escrever e falar sem erros é mais difícil do que parece |
A confusão entre imperfeito do conjuntivo e a conjugação reflexa no presente do indicativo abunda entre artigos, notícias, textos ou recados.
Pois é, se oralmente toda a gente diz como deve ser, na escrita os erros revelam-se com toda a sua monstruosidade como se se revelassem as lacunas gramaticais que, no passado, também demos a ler aos professores nas composições dos testes de português.
Por isso, hoje decidimos falar-vos sobre as diferentes entre aquele que é o pretérito imperfeito do conjuntivo e a conjugação reflexa, mandando passear a sombra que anda sempre a pairar sobre o hífen ou sobre os dois ss, tantas vezes alvos de indesejáveis trocas e baldrocas.
Vamos, então, a esclarecimentos. Vejamos os exemplos:
a) Ultimamente fala-se muito em igualdade.
b) Se eu falasse mais, trabalharia menos.
Na frase a) estamos perante o presente do indicativo e a conjugação reflexa. Temos, portanto, de usar o hífen seguido de «se».
Já na frase b) temos o pretérito imperfeito do conjuntivo (este sim), que deve, pois, ser grafado com dois ss, necessariamente acoplados ao verbo.
Contudo, note o nosso leitor que, além da diferença gráfica, existe uma diferença semântica evidente: «fala-se», no presente do indicativo, designa uma situação real, enquanto (neste contexto) na frase b) o imperfeito de conjuntivo se aplica a uma situação hipotética.
Se ainda assim é difícil perceber, não há com que preocupar…
Uma das dicas para não errar é colocar a frase sobre a qual a dúvida incide na negativa: se o «se» puder mudar de lugar, então é porque, na forma afirmativa, a forma verbal deve vir grafada com «-se», da conjugação reflexa.
Outra dica é pensar na forma como produzimos, oralmente, ambas as formas e, assim, fazer uma ligeira batota, fintando a gramática. Assim, se ao proferirmos a forma verbal sentirmos que acentuamos a primeira sílaba, então a resposta é «fala-se» (f[a]la-se). Se acentuarmos a segunda sílaba, então o correcto será grafar a palavra sem hífen e com s duplo, «falasse» (fal[a]sse).
Fiquem, então, com as seguintes frases para perceber a diferença entre os modos verbais:
A)
Come-se muito bem na casa da Carla.
Se eu comesse menos, estaria mais magra.
B)
Ela veste-se bem.
Embora se vestisse bem, andava sempre cheia de frio.
C)
— Diz-se muito «ya»!
— Se eu dissesse, a minha professora matava-me!
Boas conjugações!
Escrivaninha
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