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São João em casa

celebrar o São João Porto


Hoje, 24 de Junho, é dia de São João.

Mas todos sabemos que dia é este e porque é que o celebramos?

Em primeiro lugar, importa lembrar que a identidade do São João que por aí se celebra não é consensual. Contudo, a versão mais popular é a de que o santo que festejamos de 23 para 24 de Junho é São João Baptista — o profeta judeu nascido em Jerusalém, primo de Jesus, tão citado nos quatro Evangelhos, e nascido perto de Jerusalém.

Assim, na noite de 23 para 24 de Junho festejamos o milagroso nascimento de João Baptista, filho do sacerdote Zacarias e de Isabel – que, apesar de não poder ter filhos por ser estéril recebe, como Maria, mãe de Jesus, uma visita do Anjo Gabriel que lhe anuncia o nascimento do filho João.

No entanto, é também importante salientar que a identidade deste santo católico em honra de cujo nascimento erguemos arraiais, marchas e fogueiras é apenas uma das razões pelas quais celebramos esta data. Aliás, crê-se que, antes de católica, esta era uma festa pagã destinada a celebrar o dia mais longo do ano (o solstício de Verão) e, consequentemente, tudo o que com a luz do dia nasce e vive: a natureza, as colheitas, a vida etc. 

Saibam mais aqui.

Mas porque este ano o São João é em casa – independentemente das versões que possam explicar a forte expressão do culto de São João em Portugal e as diferentes tradições seguidas por quem o festeja – deixamos-vos com as últimas estrofes do poema «São João», de Fernando Pessoa, esperando que o espírito curioso e, quem sabe, a poesia possam acender o pavio da vossa vela.

« (E) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assinado,
Mas cuja assinatura se erra
Quando em teu dia, S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.
Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambólico
Eu a julgar-te até católico,
E tu sais-me maçon.
Bem, aí é que há espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vário.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Pronto a fazer falar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo que torna o homem precário.
Se és maçon,
Sou mais do que maçon — eu sou templário.

Esqueço-te santo
Deslembro o teu indefinido encanto.

Meu Irmão, dou-te o abraço fraternal.»

Marta

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