O flagelo dos particípios passados
São perguntas que nos assolam a todos e, na maior parte dos casos, em situações bem pouco cómodas. E porquê? Porque não sabemos a regra e, muitas vezes, não percebemos bem qual o valor destas formas.
Então, antes de mais, saibamos que as formas acima são todas formas do particípio passado (PP) – com excepção do último caso (encarregado ou encarregue) e, como já vos dissemos, encarregue não existe como particípio passado.
Ora o particípio passado é utilizado com os tempos compostos (que utilizam um verbo auxiliar + particípio passado) e na voz passiva. Vejamos um exemplo de cada um destes cenários:
1) «Eu tinha estudado muito, por isso passei no exame sem dificuldade.»
Aqui, estudado é o particípio passado de estudar e o tempo composto desta frase é o Pretérito Mais-que-Perfeito Composto do Indicativo.
2) «A maçã foi comida pelo João de uma assentada.»
Aqui, comida é o particípio passado de comer e utilizamos a voz passiva.
Mas, afinal, como se formam os particípios passados e porque é que as dúvidas andam sempre a rondar este tema?
É simples: porque existem particípios passados regulares e irregulares, verbos que têm apenas um deles e verbos com particípios passados duplos. Pois, está explicada a eterna confusão.
Vamos lá conhecer alguns deles?
Particípios passados regulares
Os particípios passados regulares formam-se, para cada conjugação, com duas terminações diferentes.
- -ar > -ado – é o caso do verbo dançar > danç(+ado)
- -er e -ir > -ido – é o caso do verbo vender > vend(+ido) e do verbo partir > part(+ido)
5) «Nunca tinha partido nenhum osso até àquele dia.»
Verbos com particípios passados irregulares
Há alguns verbos que possuem apenas um particípio passado irregular e, por muito que nos custe alertar, a única forma de os dominar é decorando-os. São eles:
Infinitivo | PP irregular |
pôr | posto |
dizer | dito |
fazer | feito |
(d)escrever | (d)escrito |
ver | visto |
vir | vindo |
(des)cobrir | (des)coberto |
abrir | aberto |
pagar | pago |
ganhar | ganho |
gastar | gasto |
E uma breve nota – feita por Celso Cunha e Lindley Cintra na Gramática do Português Contemporânea – para os últimos três verbos que, em tempos, tinham dois particípios passados (um regular e um irregular), mas o primeiro caiu em desuso.
Portanto, dizemos:
6) «Aquele escritor tem escrito muitos livros e ganho muitos prémios.»
Verbos com particípios passados duplos
Depois existem aqueles verbos a que Celso Cunha e Lindley Cintra chamam «verbos abundantes», isto é, «verbos que possuem duas formas equivalentes [e] quase na totalidade dos casos essa abundância ocorre apenas no particípio».
Aqui, a regra é simples: a forma regular utiliza-se quando utilizamos os verbos auxiliares ter e haver e a forma irregular utiliza-se com os verbos auxiliares ser e estar.
Vejamos apenas alguns exemplos:
Infinitivo | PP regular | PP irregular |
aceitar | aceitado | aceite |
entregar | entregado | entregue |
salvar | salvado | salvo |
soltar | soltado | solto |
acender | acendido | aceso |
prender | prendido | preso |
incorrer | incorrido | incurso |
omitir | omitido | omisso |
emergir | emergido | emerso |
exprimir | exprimido | expresso |
Ilustremos, então, com algumas frases:
7) «Ele tinha entregado a encomenda à mãe.» vs. «A encomenda foi entregue à mãe.»
8) «Eu tinha acendido a luz.» vs. «A luz está acesa.»
9) «O meu pai já tinha exprimido a sua opinião.» vs «A sua opinião está claramente expressa no artigo.»
Compreendido? Mas atenção: estes são só alguns exemplos!
Querem uma lista mais completa? Na Escrivaninha faremos de tudo para vos ajudar a ultrapassar o flagelo dos particípios passados... E acreditem que isto só vai lá com o hábito.
Escrivaninha
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