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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2019

“Halloween” e itálicos afins

Dia das Bruxas | Fonte: Pixabay O «100 erros» de hoje é dedicado ao uso do itálico nos estrangeirismos e em outras palavras — onde, por vezes, nos esquecemos de colocar aquela elegante inclinação que assinala a palavra como importada de uma língua estrangeira, e portanto, como uma espécie de turista na língua lusa. Felizmente, esta foi uma das regras que  não  sofreu alterações com o Acordo Ortográfico de 1990, que, aqui na Escrivaninha — como teimosas e críticas que somos — , optámos por não usar neste nosso blogue. Então, mas em que palavras usar o itálico? Segundo o  Ciberdúvidas da Língua Portuguesa  todos os estrangeirismos no seu estado «puro e original» devem ser grafados com itálico, ou, então, entre aspas. Mas, porque às vezes não estamos certos de que determinada palavra seja 100% nacional, podemos consultar o dicionário do  VOP  e garantir a impecabilidade nos nossos textos e trabalhos. Mas, atenção! Tal como recomenda a ...

Irlanda a 4 - parte I

Irlanda 2018 Parte I Há um ano, fomos à Irlanda a 4. Hoje, o Zé e a Marta contam como foi. O David e a Elsa falam-nos da sua experiência na parte II, acessível  aqui . Raízes atlânticas: a Baía de Galway A  ilha de Inisheer  (Inis Oírr em irlandês) é a mais pequena das  ilhas Aran , situada na Baía de Galway. Com cerca de 260 residentes permanentes pode ser classificada como o pedaço de pedra mais financeira e temporalmente acessível que conseguimos integrar no nosso roteiro pela costa ocidental da Irlanda. Esquecida por alguns viajantes, surgiu-nos como uma possibilidade viável através da pesquisa atenta de algumas  google images , certos blogues de viagem e graças a uma fugaz menção numa peça do Martin Mcdonagh que nenhum de nós tinha lido. Era ainda um nome reconhecido pela produção de lãs e dos seus sucedâneos, já que por todo país as «Aran Wools» apareciam pelas montras, quentes e pesadas (nos corpos e nas carteiras). As ilhas era...

A intraduzibilidade do “Bô”

Paisagem de Trás-os-Montes | Fonte: Unsplash Sabias que «Bô» é um termo transmontano com muitos sentidos, impossíveis de fixar numa só palavra que não «Bô»? «Bô!» pode ser usado para expressar surpresa, espanto, indignação, azedume, ironia, sarcasmo… bô… e muito mais — e não, não ficamos por aqui em matéria de sentidos! Porém, não vou escrever um artigo explicando detalhadamente o significado de «bô» porque (primeiro) não conseguiria e (segundo) ficaria sempre aquém da sua polissemia.  Os transmontanos sabem bem do que falo. O  « bô »  tem um quê de inefável, de intraduzível, e comporta, claro, uma forte componente regional.  Usa-se nas cidades, vilas e aldeias transmontanas e é uma expressão, por excelência, da oralidade expressiva, que tão bem casa com a essência do transmontano. Por isso, leiamos antes os seguintes diálogos que ilustram diferentes situações do uso de «bô» e tentemos captar um pouco da sua essência: A. — Pai, ...

Antes de ou antes que?

Tens dúvidas? Consulta a Escrivaninha! |  Pixabay 1)  Antes de  sair de casa, desligo sempre todas as luzes. 2)  Antes de  jantarmos, podemos descansar um pouco? Tudo bem até aqui? 3)  Antes que  comecemos a discutir, acalmemos os ânimos. 4)  Antes que  te passes, deixas-me explicar? Continua, o nosso leitor, a acompanhar? 5)  Antes da  tempestade, vem a bonança. 6)  Antes das  16 horas estarei em casa. Ora, bem. Já chega.  Então, afinal, quantas e quais destas frases é que estão certas? Será mais correcto dizermos  antes de  ou  antes que?... Esta é uma dúvida que assombra muita gente, mas é das mais fáceis de resolver. Isto porque, na verdade, é necessário começar por dizer que, sabendo que o advérbio  antes  significa o mesmo que «previamente» ou «em tempo anterior»,  antes de  e  antes que  são locuções com o mesmo valor ...

Uma página de literatura light

Ilustração de  Sofia Pereira O barulho de um homem a comer com voracidade um prato de percebes chamou-me hoje à atenção, numa esplanada, à beira-mar, em Sintra. Não passou muito tempo até que na refeição se incorporasse um monólogo. – Amor, és tão bela! — mastigava. — Repara bem nesta espécie de forma fálica do percebe — disse, contemplando o molusco, e chupando, com afinco, o seu interior.  A sua primeira frase, sem tempo  sequer  de existir, não se podia levar a sério. Os comentários sobre a iguaria intrometiam-se de tal modo que esmagavam de forma impiedosa o elogio. — Vê só o  design  natural do percebe… — continuava, admirando o bicho com um olhar semicerrado, por todos os ângulos.  Depois, chamou o empregado para o avisar de que estava prestes a tirar da mochila o  tupperware  com o acompanhamento que trouxera de casa: — Não se importa, pois não? É que estas couvinhas... Não têm cá disto. E se é para aproveitar ao máximo,...